quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Crônica de uma imagem distorcida

Por Keka Werneck, presidente interina do Sindjor-MT, jornalista em Cuiabá, militante de movimentos sociais

A moça liga a TV para ver a novela das oito e vê seu rosto em um comercial. Assusta-se, mas gosta. Vestida de roupas esvoaçante e dirigindo um carro zero da hora. Um homem alto abre a porta do carro e a resgata, já no alto de uma montanha. Vento e fim de tarde criam o clima de romance. A voz sedutora completa o anúncio do automóvel: nem tudo na vida tem um preço.
Dois minutos depois, uma buzina alta e gatos fazendo amor na maior gritaria acordam a moça do sonho.

Tudo no modo de vida capitalista tem um preço.

A TV vende sonhos que interessam à sociedade do consumo. Um carro, um refri, uma roupa, um brinquedo, uma comida...

A internet faz a mesma coisa e só muda porque amplia o campo de navegação e favorece alguma interferência do usuário.

A sociedade como ela é se reflete na TV e na internet, repetindo práticas e ideologias.

Fala-se, no Brasil, em democratização da mídia justamente para mudar essa situação. Mas, para a jornalista Elaine Tavares, pesquisadora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina (IELA), democratizar é pouco, é esmola, precisamos mesmo é popularizar a mídia brasileira e tudo que vem a reboque disso. "Não queremos mais negros, mais mulheres, mais gays na televisão. Queremos negros, mulheres, gays e outros segmentos sociais na mídia, assim como vemos na vida real".

Tavares diz isso ao afirmar que o Brasil está anos luz emperrado em um modelo de mídia perverso, marginalizante, que só mostra a cara de meia dúzia, só divulga o que interessa ao status quo e não ao povo que vive no nosso país. Segundo ela, os países da América Latina estão a passos largos avançando na reformulação dos meios de comunicação. E a Venezuela, que chega para nós como um país onde já não há liberdade de imprensa, estampa sua sociedade na telinha, sem laquês, botox, plásticas, exigências estéticas que ferem o biótipo daquele povo latino.

Ainda segundo Elaine Tavares, se não há liberdade de imprensa na Venezuela, muito menos no Brasil, onde impera o neo-liberalismo. No nosso caso, existe, segundo Karl Marx, liberdade de empresa. A liberdade aqui, diz Tavares, só vale para quem tem dinheiro para viajar, comprar, opinar. O resto assiste do sofá.

Para o escritor Vitto Gianotti, a saída desse labirinto aponta para o fortalecimento de outras mídias alternativas ao modelão. "Temos que ter uma Comunicação muito forte pra disputar a hegemonia”.

Se não for assim, continuará aparecendo só meia dúzia de caras pálidas na TV e na Internet ou em qualquer outra invenção midiática.

Muda-se a sociedade, muda-se a mídia. Mude de canal, navegue para mais longe. Porém, isso apenas não resolve. É preciso subverter regras, criar outras. E lutar por um marco regulatório das comunicações.

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